Dorival D'Angieri, o "Vazinho"

O líder do conjunto não era músico. José Doval, o Zé Baleia, ferroviário da Companhia Paulista como Vazinho D’angieri, tinha relações pessoais com um dos donos da Casa Edson (famosa por ser anunciada por um locutor, no início das gravações fonográficas, feitas pela própria Casa Edson), de quem recebia discos e partituras de músicas de seresta – modinhas, valsas, choros, sambas dolentes, o que havia de melhor na época. Sua liderança se sustentava pelo conhecimento musical que possuía.

Zé Baleia tinha um toca discos portátil e manual (de corda), onde fazia rodar as músicas para que os Chorões tocadores de ouvido as aprendessem. Embora virtuosíssimos, a maioria deles tocava de ouvido, exceção feita de Aquilino, violinista e clarinetista, e o flautista Patápio (apelido dado em homenagem a Patápio Silva, o excepcional músico carioca). Infelizmente não me lembro do sobrenome de Aquilino e de muitos outros Chorões, e nunca soube o verdadeiro nome de Patápio, que não conheci pessoalmente. Sempre em dia com a boa música de Catulo, de Noel, de Pixinguinha, de Joubert de Carvalho, de Paraguaçu (que esteve no Casa Branca da Serra visitando o grupo), de Benedito Lacerda, de Zequinha de Abreu, Ernesto Nazareth e outros, os Chorões do Japy eram também autores e incluíam músicas próprias em todas as apresentações. A valsa Agda, de autoria de Aquilino e dedicada à primeira filha de José Doval, é obra prima que merece ser registrada na história das peças de violão.

Benoit Certain era o Chorão de formação mais intelectualizada. Professor de português em escolas de Jundiaí, autor de poesias notáveis - algumas de posse das famílias D’Angieri e Doval -, orador vibrante, o mulato Benoit Certain cantava e se acompanhava ao violão, além de discursar em nome dos Chorões, quando o grupo se exibia em lugares públicos, aqui ou em cidades vizinhas para onde a ferrovia levasse a fama do grupo. O renome dos Chorões do Japy fazia com que alguns chefes de estação e diretores de associações recreativas os convidassem para tocar em suas casas ou em clubes. Benoit também se destacava por improvisar discursos sobre temas dados na hora, outra prática dos Chorões, da qual participavam advogados, médicos e até um sacerdote, o padre Guerrazzi – pessoas que se afinavam com a alma boêmia dos músicos e entendiam o valor dos saraus que promoviam no bar, é claro.

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