Dorival D'Angieri, o "Vazinho"

“Os Chorões do Japy”, um grupo musical que existiu do começo dos anos 40 até início dos anos 60, formado por boêmios maravilhosos e músicos geniais, dos quais conheci alguns remanescentes e com quem passei algumas das melhores horas da minha vida real, ou seja, a vida sonhada (“a sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro”, a que se refere Fernando Pessoa, em “Tabacaria”).

Maravilhosa e genialmente coerentes, visceralmente amadores, os boêmios Chorões do Japy não deixaram registros das suas reuniões. Suas performances faziam parte do afazer de todas as quintas-feiras, espécie de culto onde a música, a poesia e a cachaça eram os parâmetros, e o bar seu templo. Daí estas maltraçadas não terem a menor pretensão de documentar, mas sim de devanear a respeito do grupo, juntando testemunho pessoal, pedaços de conversa e ouvir dizeres.

Meu primeiro contato com os Chorões do Japy foi em fins de 1950, através da filha de um deles, minha aluna do Curso normal das Escolas Anchieta. No dia da formatura de Lúcia D’Angieri fui convidado para a festa que a família lhe dedicava, depois da solenidade da diplomação. Conhecí, então, Dorival D’Angieri, o Vazinho, e sua mulher, Dona Zulmira Rinaldi D’Angieri. Vazinho era um dos fundadores dos Chorões e exímio percurssionista, Dona Zulmira sua mais notável cantora. Não me flagrasse eu, até hoje, conversando com ele e ouvindo “Corguinho” na voz dela, diria que eles já morreram - Vazinho há cerca de dez anos, Dona Zulmira no começo deste ano. A partir daquela festa, freqüentei quanto pude as reuniões dos Chorões do Japy, àquele tempo já esporádicas, restritas às comemorações do 1º de Maio e um ou outro domingo no sítio Casa Branca da Serra, situado nos altos do Horto Florestal, propriedade do Vazinho. Nos seus melhores tempos os Chorões reuniam-se às quintas feiras, no bar do Hamleto Pelicciari, na Rua Carlos Gomes, Ponte São João. Satirizando as reuniões semanais dos maçons, os Chorões denominavam seus saraus de reunião da Turma do Bode (referência ao bode preto da maçonaria).

Dona Dileta, esposa do dono do bar, preparava bistecas de boi e arroz branco como poucas deusas do Olimpo conseguem. Além da cozinheira oficial, Dona Dileta foi musa inspiradora de algumas poesias – outra prática dos chorões - especialmente as escritas por Waldemar de Almeida Ramos, seu fã mais ardoroso.

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